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Dez dicas de como construir um cenário de simulação realística completo e efetivo

Por Débora Porto, enfermeira e consultora da HER


Depois de alguns anos ajudando docentes a construir cenários de Simulação Realística, vejo que a grande dificuldade da maioria é saber como fazer uma ideia ou um tema se transformar em um cenário. Segundo Alinier (2011) e Meakim et al. (2013), o cenário clínico representa o contexto ou a história de um paciente dentro de um enredo, gerando uma sequência de ações que envolvem tomadas de decisão complexas, estratégias de resolução de problemas, raciocínio e outras habilidades cognitivas, com o objetivo de resolver a situação problematizadora e assim obter os resultados de aprendizagem.

Com isso, a construção de um cenário clínico envolve três etapas: planejamento, implementação e avaliação. No planejamento temos que estabelecer tudo que é necessário para chegar aos resultados de aprendizagem definidos para aquele tema. Na implementação iremos testar esse cenário e verificar se atingiu o objetivo proposto e nessa avaliação identificamos quais são as modificações necessárias.


Para guiar você na construção de cenários de Simulação Realística completos e efetivos listei abaixo dez dicas:


Dica 1: Estabeleça um tema e o público-alvo que pretende atingir


A primeira etapa é definir um tema para o cenário de simulação, que pode ser:“parada cardiorrespiratória no adulto”, “Cuidado com recém-nascido na 1ª hora de vida”, “cuidado de enfermagem à puérpera”, “consulta de enfermagem ao idoso hipertenso”, entre outros. Analisando essas temáticas, vemos que é possível trabalhar vários objetivos de aprendizagem, mas não todos numa única simulação! Quanto ao público-alvo, é importante determinar para quem será esse cenário e a partir disso será estabelecido o nível de dificuldade do mesmo. Este não pode ser nem fácil demais e nem tão difícil ao ponto de não ser um desafio aos participantes.


Dica 2: Determine o objetivo principal e os secundários


O objetivo principal deve ser amplo, contendo competências e habilidade essenciais, cuja linguagem deve seguir diretrizes e critérios padrão para objetivos educacionais. Indico o uso da taxonomia de Bloom do domínio cognitivo para estabelecer o objetivo mais adequado conforme o nível de complexidade que se pretende para esse cenário. Os objetivos secundários envolvem todos os objetivos mais pontuais necessários para chegar ao objetivo principal.


Exemplo:

​Objetivo principal

​Objetivos secundários

Objetivo de menor complexidade

Identificar os sinais premonitórios da parada cardiorrespiratória na criança.

- Aferir sinais vitais

- Identificar bradicardia

Objetivo de maior complexidade

Gerenciar o atendimento de enfermagem à criança em parada cardiorrespiratória.

- Identificar pcr - Solicitar ajuda da equipe - Iniciar compressões fortes e rápidas


Dica 3: Crie um contexto para o cenário


O contexto do cenário é um resumo de tudo, ou seja, descreve quem é o paciente, a idade, o resumo da situação, onde ele está, acompanhado de quem, sinais e sintomas importantes, história pregressa, o que irá acontecer com o paciente durante o cenário e o que se espera dos participantes.


Dica 4: Liste os materiais e tecnologias necessários para dar vida ao cenário


Pensando em como dar vida ao contexto descrito para o cenário é que se planejam os materiais e tecnologias necessários. Quando se planeja qual manequim utilizar, deve-se voltar para o objetivo do cenário. Por exemplo, para identificar sinais e sintomas de uma PCR no adulto basta ter um torso para realizar compressão cardíaca, sem ventilação espontânea. Mas caso o objetivo seja gerenciar o atendimento de enfermagem numa situação de PCR é necessário um simulador com monitor, com ventilação espontânea, com pulsos centrais e periféricos, braço com local para punção e administração de medicamentos , entre outros. É importante evitar fazer de conta! o ideal que o cenário seja o mais fiel à realidade da prática clínica.


Dica 5: Estabeleça o quantitativo de participantes e o papel que irão desempenhar


Se em um atendimento real de parada cardiorrespiratória preciso de dois enfermeiros, três técnicos de enfermagem e dois médicos, então precisamos de 7 participantes. Caso eu não tenha médicos para serem participantes, posso colocar um ator que fará o papel do médico neste cenário. Diferente dos demais, o ator sabe o que vai acontecer na cena, contribuindo para que se alcance os resultados de aprendizagem ou seja, este fará parte da equipe da simulação.

Dica 6: Planeje as orientações do Briefing e do caso clínico


Deixe pronta as orientações do Briefing já que geralmente não mudam muito de uma simulação para outra. Neste momento de apresentação da sessão são fornecidas informações importantes sobre o ambiente, os equipamentos, o cenário; são estabelecidas regras de conduta, contrato de ficção (pacto de agir como se fosse real) e confidencialidade (não exposição da experiência de simulação a outras pessoas) e a leitura do caso clínico. Estas ações conferem segurança psicológica, ou seja, sentimento de liberdade de expressão de pensamentos, percepções e opiniões sem risco de punição e constrangimentos, preparando os participantes para as próximas etapas.

O caso clínico deve conter informações importantes sobre o paciente e a situação, mas sem entregar o caso, ou seja, sem dizer o que se espera do participante. Apenas diga: você é o enfermeiro ou médico nesta situação, faça o seu melhor! simulação iniciada!


Dica 7: Estabeleça um roteiro para os acontecimentos da cena


O roteiro da cena precisa ter um início, um meio e um fim. Primeiro descrevemos o estado inicial do paciente com dados do monitor (sinais vitais), dados objetivos (Ex: taquipneia, cianose), dados subjetivos (fala do simulador: fala que está com dor, fala do acompanhante: acompanhante pede ajuda) e pistas para as próximas etapas da cena. Tem várias maneiras de escrever esse roteiro, o importante é ser descrito em detalhes o que irá ocorrer na cena. Além disso, é preciso prever o cenário favorável em que a cena segue o passo a passo do protocolo de atendimento, assim como o não favorável. Veja a próxima dica!


Dica 8: Prepare-se para desdobramentos inesperados. Salve o cenário!


Como a simulação não deve ser combinada, pode haver eventos inesperados, então devemos prever no roteiro o desfecho não favorável, em que podemos colocar na cena profissionais da equipe da simulação para “salvar o cenário", ou seja, dando dicas para o atendimento, ou ajudando como alguém mais experiente.


Dica 9: Faça um check list para os observadores


Os observadores não participam ativamente do cenário, mas vivenciam a situação e analisam as ações dos colegas a partir de um roteiro estruturado. Os apontamentos gerados são levados ao grande grupo durante o debriefing.


Dica 10: Teste o cenário!


Após a construção textual do roteiro do cenário e checklist dos observadores, elaboradas para a simulação, é imprescindível realizar o teste piloto, que segundo INACSL (2016) fornece a oportunidade de verificar a fidelidade do roteiro e se com o mesmo é possível atingir os objetivos propostos. Além disso, possibilita a identificação de erros e confusões que podem ser corrigidos, e para isso é necessário testá-lo com um grupo semelhante ao público-alvo.


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Referências:

MEAKIM, C. et al. Standards of best practice: Simulation standard I: Terminology.

Clinical Simulation in Nursing. 2013 Jun 1;9(6):S3-11. Disponível em:

https://www.nursingsimulation.org/action/showPdf?pii=S1876-1399%2813%2900071-6.

Acesso em: 6 maio 2021.


ALINIER, G. Developing high-fidelity health care simulation scenarios: a guide for educators

and professionals. Simulation & Gaming. v. 42, n. 1, p. 9-26, 2011. Disponível em:

https://journals.sagepub.com/doi/abs/10.1177/1046878109355683. Acesso em: 4 maio 2021.


INACSL STANDARDS COMMITTEE. INACSL standards of best practice: simulation SM

simulation design. Clinical Simulation in Nursing. 2016 12(5 Suppl):S5-S12. Disponível

em:

https://www.inacsl.org/inacsl-standards-of-best-practice-simulation/#:~:text=The%20Internati

onal%20Nursing%20Association%20for,guidelines%20for%20implementation%20and%20tr

ainin. Acesso em: 12 dez. 2020.


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